Com flores e velas mais caras, há quem faça uma gestão mais apertada para decorar as campas dos seus entes queridos nesta terça-feira, dia de Todos os Santos. As queixas do aumento dos preços são transversais a vendedores e clientes, mas há quem já tenha estratégias.
Na mão, Maria José Brito leva um ramo que custou, esta terça-feira, 20 euros. “Costumava pagar 15 euros”, recorda, à entrada do Cemitério do Prado do Repouso, no Porto. Encolhe os ombros e fecha os olhos, conformando-se com a subida dos preços. A situação é transversal a todas as bancas de flores e velas à porta dos cemitérios da cidade. Mas as queixas começam no seio de quem vende.
O negócio “está a correr mais ou menos”, observa Sónia Pereira, com banca montada desde as 7.30 horas à porta do Prado do Repouso, no Largo Soares dos Reis. “As pessoas não têm dinheiro e as flores encareceram nesta época, mas a subida da cera foi drástica. Em vez de levarem cinco velas levam três”, exemplifica a vendedora de 43 anos, lamentando a margem de lucro, que “é cada vez mais pequena”.
“Os clientes queixam-se e pensam que fomos nós que subimos os preços, mas não. Já compramos as velas muito mais caras aos fornecedores”, acrescenta.
Por outro lado, e “apesar de tudo estar mais caro”, Marta Oliveira, que acabou de comprar um ramo de flores, admite não ter notado uma subida substancial dos preços nas flores e nas velas. “Achei que estava mais ou menos igual ao preço habitual”, admite ao JN.
Estratégia para combater os custos
“Sente-se um aumento, até porque as pessoas aparecem a perguntar o que é que fica mais em conta. Na cera, notam-se grandes diferenças no preço. Vendia as velas de ‘sete dias’ a um euro e agora custam 1,40 euros. Se nos vendem mais caro, também temos de aumentar para termos alguma margem. Não posso fazer nada”, verifica Sandra Torres, de 36 anos. “Nas flores também há pequenos aumentos, mas como a produção é nossa não se sente tanto”, justifica. Uma dúzia de crisântemos, exemplifica, custa seis euros.
A comerciante está desde as 8 horas na Rua da Meditação, entre a Rotunda da Boavista e o Cemitério de Agramonte, e admite que há mais movimento face ao ano passado. “Acho que este ano veio mais gente. No ano passado ainda havia um bocadinho do impacto da pandemia”, considera Sandra.
Para Maria Natividade não restam dúvidas: tanto as velas como as flores estão mais caras. Por isso, a portuense de 59 anos tem já há algum tempo uma estratégia, em conjunto com a irmã para fazer face aos aumentos. “Vimos cá [ao cemitério] todas as semanas, mas vamos à feira da Senhora da Hora, em Matosinhos, compramos velas em maior quantidade e fica em conta. Não compramos só nesta altura e como vimos durante todo o ano, todos os sábados, não custa tanto. Mas que aumentou este ano, aumentou”, acena Maria.
No Cemitério de Agramonte, tem os pais, irmão, avó e um bebé. “Nasceu morto. Se fosse vivo, fazia agora no dia 21 de dezembro 45 anos. Era meu sobrinho”, recorda.
Preço das velas subiu cerca de 40%
À direita da porta de entrada para Agramonte, a terceira banca é de Maria Lopes. A florista nota que “as pessoas queixam-se muito e aparecem já com a ideia de que as coisas estão muito mais caras”. No entanto, a comerciante afirma que, com alguma ginástica financeira, não alterou o preço de alguns dos seus produtos.
São os “complementos” dos ramos, como o vivaz, que estão a interferir com o valor final. “Mas aí, conseguimos tirar uma coisa e outra e reduzir o custo”, revela a florista, de 52 anos. “Neste caso, a subida afeta-me mais do que ao cliente. Só que as pessoas aparecem já com a ideia de que está tudo pela hora da morte, mesmo sendo ao mesmo preço do ano passado”, lamenta.
“As velas sim, estão mais caras uns 40%”, estima Maria Lopes.
Créditos: JN
TVSH 2022