Foi ajudante de cozinha, telefonista e, mais tarde, operador de rádio, acabando a comandar os três postos da GNR.
Em São Mamede de Infesta, onde reside, António Paulino cumpre a sua rotina militar diária, caminhando primeiro cerca de um quilómetro no passeio perto da habitação — se estiver a chover caminha dentro de casa — e depois cumpre mais meia hora de ginástica aprendida “no curso de luta e defesa pessoal” que fez quando esteve destacado pela GNR em Braga, há mais de 50 anos, contou.
O sonho do menino nascido em Armamar, no distrito do Viseu, de um dia vestir a farda da Guarda Nacional Republicana, ganhou asas assim que terminou o serviço militar em Lamego, levando-o a conhecer por dentro uma instituição onde “sempre foi bem tratado”.
Das palavras do antigo 1.º Cabo fica também evidente que a ligação à instituição não findou quando se reformou, em 1977, ao fim de 32 anos de serviço, mostrando manter a disciplina militar aprendida na entidade criada em 1911.
Começando por responder que o seu quotidiano atual “é comer, dormir e rezar”, depressa António Paulino chegou aos “segredos” que fazem dele um centenário de ar saudável e ao comentário bem humorado que atesta a sua boa forma: “não me dói nada e, quanto a comer, só não como pedras porque são duras”.
Em 1945, então com 23 anos, a entrada na GNR fê-lo percorrer uma parte do país, começando pela Guarda e prosseguindo por Lisboa, Porto, Montalegre e Braga. Seguiu-se o comando dos postos da GNR do Prado, no concelho de Vila Verde, Maia e Paredes, ambos no distrito do Porto, chegando à reforma que naquele tempo “era de lei acontecer aos 52 anos”, em 1977, lembrou.
Nesse percurso começou por ser ajudante de cozinha da messe dos oficiais, passou depois para telefonista e, mais tarde, para operador de rádio, acabando, ao ser promovido, a comandar os três postos da Guarda, acrescentou.
Seguiram-se “47 anos na agricultura”, na sua terra, em Aricera, mas não só, já que relatou que nesse período chegaram-lhe, também, diversas solicitações, da casa do povo à igreja e à política, tendo sido presidente da junta de freguesia local, recordou António Paulino.
A falta de memória não trai a conversa e responde sempre com convicção, mesmo quando o tema avança para o peso que a ditadura do Estado Novo tinha nas pessoas e na instituição no tempo em que foi militar: “nesse tempo pensava pouco nisso”, respondeu entre sorrisos.
“Havia muito respeito pela autoridade. No meu tempo, nas freguesias, as pessoas mais importantes e a quem o povo obedecia eram a GNR, os professores e o padre. Eram as três entidades que dominavam a situação e o povo era muito humilde e tinha muito respeito”, recorda-se António Paulino dessa relação quotidiana.
Questionado se a atitude dos portugueses para com a autoridade mudou após a queda do Estado Novo, referiu que hoje “as pessoas têm mais a quem recorrer e o ambiente é diferente”.
Viúvo e com quatro filhos, sete netos e seis bisnetos, o antigo militar entrega a Deus a decisão sobre “quantos anos mais” vai durar.
“Tenho dois amiguinhos, o senhor Jesus e o Divino Espírito Santo. Está no poder deles darem-me mais ou menos tempo”, disse.
TVSH 2022