Jovem francês nega envolvimento na morte de estudante Paulo Correia no Porto
Anas Kataya, de 22 anos, afirmou em tribunal nada ter a ver com o crime e diz que foi alvo de uma agressão.
“Se não teve intervenção nos factos que aqui estão a ser julgados, porque é que não disse logo, após a detenção, que era inocente, que a detenção era ilegal, injusta, que era um erro da justiça, que tudo de que era acusado é falso e que deviam procurar quem fez? É instintivo, quando alguém é inocente, procurar defender-se”, questionou a juíza presidente Isabel Monteiro.
Na resposta, o arguido, estudante de medicina dentária e que se encontra em prisão preventiva desde 11 de outubro de 2021, explicou que, tanto a advogada, oficiosa, que o acompanhou à Polícia Judiciária, como uma segunda que contratou para estar com ele no primeiro interrogatório judicial, o aconselharam “a não falar”, pois isso “poderia prejudicá-lo”.
“Como é que acata uma coisa dessas?”, voltou a questionar a presidente do coletivo de juízes.
Segundo a versão do arguido apresentada esta segunda-feira em julgamento, num primeiro momento, quando ele e outros dois amigos se encaminhavam para a discoteca, junto ao Coliseu do Porto, deparou-se com um grupo “bastante agitado”, com um dos elementos — de cabelo grande e com rabo de cavalo — a gesticular para ele, “com os punhos levantados e em posição de luta”.
De acordo com o arguido, esta pessoa dirigiu-se para ele e disse a palavra “matar” e tentou agredi-lo, com o arguido a responder, sem, no entanto, o atingir.
O segundo episódio de violência relatado por Anas Kataya aconteceu mais tarde, quando um outro jovem, que vestia um pulôver azul, sem o arguido contar e sem perceber as razões, o agrediu com “um soco no olho direito”.
Em resposta, o arguido declarou que também acertou com “um murro” no suposto agressor, e que, posteriormente, cada um seguiu o seu caminho.
Para o Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), o jovem de pulôver azul é a vítima mortal, Paulo Correia.
Confrontado com as fotos do INML, o arguido assumiu desconhecer aquela pessoa, sublinhando que não foi com essa com quem se envolveu fisicamente.
O julgamento prossegue durante a tarde desta segunda-feira , com a continuação do interrogatório ao arguido.
O principal arguido, Anas Kataya, está acusado de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificada, crime pelo qual está igualmente acusado um segundo arguido, Jean Jelali, também de nacionalidade francesa, mas que está em liberdade.
O despacho de acusação do Ministério Público (MP) conta que, na madrugada de 10 de outubro de 2021, junto a um estabelecimento de diversão noturna, na zona de Passos Manuel, “enquanto aguardavam pela entrada no local, gerou-se uma troca de palavras entre um grupo de cidadãos portugueses, onde se encontravam os três ofendidos, e três mulheres de nacionalidade francesa”.
Segundo o MP, “as três mulheres afastaram-se momentaneamente do local, indo ao encontro dos dois arguidos, também franceses, os quais, sabendo do desentendimento, vieram na direção do grupo [onde estava o estudante Paulo Correia], com o único propósito de agredir os seus elementos”.
“Um dos arguidos [Anas Kataya], ao alcançar um dos ofendidos, desferiu-lhe murros e socos no rosto e na cabeça e, de seguida, foi no encalço da vítima mortal, tendo-lhe desferido, com grande violência, um murro na zona da cabeça”, descreve a acusação, sublinhando que a vítima foi a cambalear até junto de uma viatura ali estacionada, na qual embateu, “caindo ao chão, ali ficando prostrada”.
O outro arguido [Jean Jelali], de acordo com o MP, “foi na direção do terceiro ofendido e desferiu-lhe um murro, fazendo-o cair no chão, após o que ainda o pontapeou no tórax”.
TVSH 2022