Dinis e Sebastião Leão são irmãos e o primeiro é casado com Gabriela, também atleta do Leixões
“A nível pessoal também é muito bom. Quando o Dinis saiu da Académica de São Mamede para o Sporting de Espinho sentimos a distância. É muito vantajoso partilharmos a nossa forma de vermos as coisas – muito semelhante -, embora a forma de ser seja, naturalmente, diferente. E, em termos de equipa, é muito benéfico”, acrescenta o atleta profissional natural de Abragão (Penafiel), licenciado em Educação Física, que começou a jogar voleibol aos 13 anos, na Académica de São Mamede.
Dinis, que joga desde os oito, considera que o objetivo do Leixões em ter contratado, em 2021, os dois irmãos e a sua mulher, Gabriela, terá sido mesmo o de mostrar que “dá para aliar a parte familiar com a competitiva ao mais alto nível.” “Somos os três jogadores de alto rendimento, dedicamo-nos totalmente a isto. E é uma boa referência para os jovens, para os pais e para a cidade perceberem que o Leixões é isto: conseguirmos conciliar o compromisso e a exigência com a parte familiar”, argumenta o marido da Gabi. “É muito positivo para o Leixões”, diz a número 2 da equipa de Miguel Coelho.
“Este é um clube familiar, está muito ligado aos valores da família, da união, do apoio constante. O facto de ter dois irmãos a jogar na equipa sénior masculina é muito engraçado, gosto muito de estar no mesmo clube e no dia-a-dia com eles. E para o Leixões também é um motivo de orgulho por ajudar-nos a conciliar tudo, mesmo com uma filha, e podermos jogar a nível profissional”, adianta a internacional licenciada em Economia.
“É um sentimento muito especial o que vivemos neste clube. O trabalho, a união, o espírito familiar superam a capacidade financeira de emblemas com orçamentos superiores. Essa é uma das características do Leixões. Quando adversários, com nomes mais sonantes, jogam em Matosinhos, sentem o peso de defrontar a nossa equipa e também a influência da massa associativa”, elogia, com um sorriso de orgulho, antes de pegar na filha ao colo porque estava “na hora da sopinha”.
Dinis nunca foi “aposta ano após ano” da Seleção
Dinis Leão tem seis internacionalizações “sem nunca ter sido aposta da Seleção Nacional sénior”. “Se quiser deixar isso escrito, até gosto”, solicitou o jogador que, em 2021/22, na época de estreia no Leixões, obteve o melhor registo do seu percurso (586 pontos). “Nunca fui aposta ano após ano. São opções, faz parte”, afirmou o oposto de 26 anos que participou, entre maio e junho de 2021, nas seis jornadas da fase de grupos da Golden League, com Turquia, Chéquia e Bielorrússia.
Estrangeiras: “É fácil fazer com que se sintam em casa”
Com as conquistas da Taça de Portugal nas duas últimas épocas, sob o comando de Miguel Coelho, o Leixões passou a ser o clube com mais troféus – dez – no voleibol feminino. O “ambiente familiar” contribui para o sucesso. “Esta temporada, temos uma colombiana, uma francesa e uma americana, mas mesmo tendo estrangeiras, é mais fácil recebê-las por não ser um número muito grande. É mesmo muito fácil fazer com que se sintam em casa”, garante o técnico de 35 anos natural de Matosinhos.
Gabi com avô fundador do fiães, pai e irmão no futebol
Gabi não tem nenhuma jogadora referência. “O Dinis e o Sebastião são as pessoas que me dão força diariamente – incluindo, claro, no voleibol – para fazer sempre melhor”, diz. Natural de Sanguedo (S. M. Feira), Gabi é neta do fundador do CD Fiães, Joaquim Matias Coelho, e o pai, Vasco Coelho, “também jogou voleibol e futebol” e foi treinador de futebol, entre outros, dos juniores do Boavista, Cesarense e Canedo, onde joga esta época o irmão, Vasco, central da equipa da AF Aveiro, orientada por Ricardo Nascimento.
Alice dorme no pavilhão e assiste às sessões de vídeo
A Alice, filha de Dinis Leão e Gabriela Coelho – “a Gabi” – nasceu a 12 de setembro do ano passado. Quando fizemos esta reportagem, a Alice brincava com uma pequena bola de voleibol. “Nas sessões de vídeo e planeamento, assiste muitas vezes comigo enquanto a mãe está a treinar”, conta Dinis. E não são raras as vezes que dorme numa sala do Pavilhão Municipal de Matosinhos, enquanto os pais treinam na Nave Ilídio Ramos ou num dos outros espaços do recinto.
Adeptos dão energia que falta
Elogios de Dinis Leão e Miguel Coelho, treinador das seniores. O técnico de 35 anos, que foi líbero como atleta, conta que muitos adeptos “viram algumas jogadoras crescer, estudaram com elas” e têm uma relação muito próxima.
A exigência da massa associativa, a garra e a mística é “sempre muito positiva”. “Juntámos a disciplina e a seriedade com alguma irreverência, que esta massa associativa nos traz”, defende Dinis Leão. “O sucesso que temos tido deve-se, também, à massa associativa, porque nos dá a energia que nos falta”, adianta o jogador do Leixões, a quem não lhe “sobe o ego por fazer muitos pontos”. “O que importa é que a equipa tenha sucesso e esses pontos converterem-se numa vitória”, assume. O espírito abordado pelo melhor pontuador do campeonato é corroborado por Miguel Coelho.
“As equipas do masculino, do feminino e todas as da formação têm essa mística”, defende o treinador das seniores”. “Grande parte das pessoas vão crescendo aqui. Por isso, há uma identificação muito grande com o clube, a cidade e os adeptos”, anota. “Não é só a típica relação em que o adepto gosta da jogadora e esta gosta de ter casa cheia e que os adeptos estejam por perto. Não, aqui os adeptos conhecem as jogadoras, muitos deles viram algumas crescer, estudaram com as jogadoras, outros têm filhos que têm uma relação próxima com as atletas. É quase como se toda a gente tivesse um sentimento de pertença muito grande e todos sentem que isto é um bocadinho de todos, o que cultiva um pouco do que é a família”, reforça.
Não há muitos casos como este “tão giro”
Miguel Coelho define como “um caso giro ter dois irmãos e um deles ser casado com a Gabi”. E ter a Alice no pavilhão “muitas vezes, ainda é mais giro. Não há muitos casos destes em que marido e mulher joguem no mesmo clube”, sublinha. Das 13 jogadoras do plantel, apenas uma trabalha. “Há algumas, as mais novas, que são estudantes e as outras são profissionais”, revela o treinador que, como como jogador, foi líbero no Leixões, V. Guimarães, Gueifães e Madalena.
“O bom trabalho é sempre a prioridade, porque sem o bom trabalho todos os outros valores estão comprometidos. E pode fazer a diferença contra orçamentos mais altos”, afirma, sublinhando que “tem de haver, por exemplo, muitas horas de trabalho, uma análise muito boa de cada adversário.”
“Falta um bocadinho de ajuda”
“Ganhar, compromisso, seriedade, profissionalismo, entrega, união, sacrifício, sem sacrifício não há nada no desporto”. São estas as palavras/frase que Tiago Sineiro mais transmite aos jogadores. “O que pretendemos é ter resultados para atingir objetivos. Se integrarmos a parte da união, amizade e sentido de família, torna ainda mais fácil o trabalho e o sentido de compromisso que temos com muitas horas de preparação”, adiantou o treinador dos seniores do Leixões.
“No masculino e no feminino, lutámos contra orçamentos muito superiores ao nosso. Na época passada ficámos apurados para as provas europeias e não as disputámos por falta de apoios. Precisávamos, por exemplo, que a cidade de Matosinhos nos acompanhasse mais. O voleibol do Leixões merece um bocadinho de ajuda”, lamentou.
Ingratidão da Federação
Dinis Leão defendeu que “a Federação Portuguesa de Voleibol não é grata a clubes como o Leixões e o Esmoriz”. “São dois clubes que estão, na realidade, a subir o nível dos jogadores portugueses, e duas equipas portuguesas, de portugueses, que estão a lutar contra os ditos grandes. Deveria dar mais apoio”, considerou, dando um exemplo: “O jogo entre as duas equipas não foi transmitido e foi a Fonte do Bastardo-Académica de Espinho, quando o Leixões-Esmoriz era o mais esperado do fim de semana”, referiu.
“Por sermos uma família portuguesa sentimos o campeonato e vivemos o quotidiano de um modo diferente dos atletas dos outros clubes. Esse sentimento faz-nos superar”, frisou. “Não lutamos apenas por nós, nem por contratos melhores. Lutamos por um clube, por uma cidade, por muito mais do que apenas o individual”, atirou, solicitando “mais apoios” para o clube competir nas provas europeias se esse objetivo for concretizado, tal como sucedeu em 2021/22 em que as duas equipas não participaram por falta de verbas.
Créditos: OJOGO
TVSH 2022